Março 2020

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Sofia Ramos, HR & Labour Manager | CSCC

Seleção e Recrutamento - Como procurar uma agulha afiada num grande palheiro

A seleção e o recrutamento são das ações mais complexas para quem lida com os Recursos Humanos numa empresa.

É um processo que, para que seja bem-sucedido, exige um certo equilíbrio entre duas forças que se opõem. Por um lado, temos a empresa que tenta mostrar a sua realidade e as suas necessidades para o cargo que procura e, por outro temos o candidato que tenta demonstrar as suas qualidades e de que forma estas serão as ideais para a satisfação das necessidades da empresa.

Para além deste equilíbrio, entre as necessidades da procura e as qualidades da oferta, é indispensável que haja transparência e honestidade durante este processo para que não se criem falsas expectativas.0

Após avaliadas todas estas vertentes percebemos se existe ou não um match perfeito e, quando assim não acontece, há que começar todo o processo do inicio.
Todo esse recomeço traz-nos custos acrescidos, quer monetariamente quer temporais.

E, ao contrário do que se possa pensar, esse match não acontece assim tão frequentemente, o que num mercado com cada vez menos candidatos e cada vez mais oferta competitiva torna todo este processo numa autentica busca de “uma agulha afiada num grande palheiro”.

Então como podemos nós facilitar esse match de forma a que as empresas limitem a existência desses custos acrescidos

Na minha opinião podem-no fazer utilizando uma ou mais que uma destas dicas:

  • Fazer parceria com especialistas em recrutamento – Estes especialistas têm conhecimento de quais as competências específicas, técnicas e pessoais, que são necessárias para colmatar as necessidades das empresas. Além disso possuem, por norma, um vasto conhecimento de mercado tendo inclusive candidatos inscritos nas suas bases de dados já com o seu profile devidamente caracterizado.
  • Divulgar os valores da empresa através dos anúncios e plataformas de recrutamento – Este ponto é fundamental para que os candidatos possam perceber se se revêm nos valores da empresa. Valores esses que vão muito para além dos clichés que assentam na progressão na carreira, nos pacotes salariais ou no nível de inovação. Cada vez mais os candidatos querem perceber se a empresa é flexível no horário de trabalho e na forma de trabalhar, se o tempo com a família é valorizado ou se sentirá que faz parte integrante do bigger picture em cada projeto.
  • Apostar na diversidade e na amplitude de candidatos – Não se foque ou limite apenas ao candidato que lhe parece ser o “Cristiano Ronaldo”. Procure ver o talento e margem de progressão de outros candidatos, para que possa ter várias alternativas e várias opções.

Mas e os candidatos? O que podem eles fazer para se destacaram dos demais?

Qualquer empresa hoje em dia tem necessidades de recrutamento em áreas técnicas, mas também em áreas transversais como o Marketing, Recursos Humanos, Financeira, Vendas, etc.

Por esse motivo, e se estiver a pensar em candidatar-se a uma empresa de IT, tenha isto em mente:

  • Adquira ou atualize conhecimentos técnicos, através de formações e autoformações – Num mundo em transformação constante os nossos conhecimentos técnicos podem facilmente cair em desuso com a introdução de novas metodologias, novas tendências ou até mesmo com a alteração de fatores externos e até mesmo legais. É importante que o recrutador perceba que o candidato procura estar sempre atualizado.
  • Adquira ou atualize conhecimentos em ferramentas que possam ser úteis – Da mesma forma que os conhecimentos técnicos vão evoluindo, as ferramentas tecnológicas, intrinsecamente ligadas a esses conhecimentos, também evoluem. Aliás nos dias de hoje o que não faltam são soluções informáticas para todos os gostos e ter know-how sobre algumas delas poderá ser um fator diferenciador importante.
  • Fomente o seu interesse por notícias e tendências tecnológicas relevantes – Se vai trabalhar para uma empresa de IT, o mundo da tecnologia vai fazer parte do seu quotidiano! Fomente o seu interesse e vá estando atento ao que se passa no mundo na tecnologia para que consiga perceber melhor o que se passa à sua volta.
  • Procure estar atento ao seu redor e melhore a sua capacidade de comunicação e organização – As empresas altamente “departamentalizadas” estão a dar lugar a empresas que funcionam em open spaces nas quais todos contribuem para um bem comum. Mais do que saber trabalhar em equipa mostre que sabe trabalhar e comunicar em “sociedade”.
  • Procure saber mais sobre o mercado em que a empresa se insere – Saiba o básico do mercado do qual faz parte a empresa da qual quer fazer parte. Se conseguir saber factores como concorrentes, volumes faturação, valores de investimentos ou até mesmo a valorização que é dada à sua função dentro do mercado pode ser importante para que possa negociar mais assertivamente.

Então e após encontrar essa agulha, como a podemos reter na caixa de costura?

Não basta conseguir recrutar os melhores candidatos, é igualmente importante conseguir reter os colaboradores já existentes na empresa;

Enquanto as empresas estão preocupadas em olhar para fora, em busca de novos talentos, o mercado pode facilmente aliciar os nossos colaboradores de forma a que se tornem candidatos para outras empresas.

É um ciclo! Por vezes é quase impossível travar este ciclo, mas, se não conseguirmos reter colaboradores então a ineficiência produtiva aumenta drasticamente por consequência direta, o que nos obriga a pelo menos tentar abranda-lo.

Esta realidade, em pequenas empresas, tem consequências ainda mais nefastas, uma vez que os processos tendem a ser construídos “à volta “de um colaborador e quando este sai, tendem a colapsar;

Existem varias teorias sobre formas de retenção de colaboradores, que vão desde os fringe benefits a salários competitivos, no entanto, na minha opinião o simples facto de as empresas passarem a considerar os seus colaboradores como activos em vez de custos pode alterar positivamente todo um mindset desta temática e por consequente a relação entre colaboradores e empresas.

A verdade é que quando um colaborador começa a estar atento ao que se passa no mercado à sua volta, mesmo que não procure activamente, acaba por ter a sua atenção dividida iniciando assim um processo em que a sua reversão é difícil.

Nesta fase, o colaborador começa a perceber que “lá fora” existem projetos interessantes, oportunidades de carreira diferentes e outro tipo de benefícios que o farão suscitar interesse e curiosidade. Cabe à empresa criar condições para que a atenção do colaborador não se desvie ou caso se desvie, seja possivel ganhar novamente a sua atenção. Aqui, uma liderança próxima pode ser um fator determinante na deteção e ação sobre estes casos de insatisfação. De que forma?

  1. Uma liderança próxima conseguirá prever estes casos através de momentos informais, momentos de acompanhamento profissional ou outros instrumentos de medição internos que possam estar em vigor na sua empresa. Até mesmo quebras de produtividade podem ser um alerta importante. A deteção atempada ou numa fase inicial poderá ser fundamental na tentativa de dissuasão deste processo.
  2. Assim que identifica um caso de insatisfação pode e deve agir, e fazendo alterações que possam ir ao encontro das necessidades do colaborador ou comunicar às entidades superiores de forma a que se desbloqueiem determinadas situações.
  3. Caso este processo seja irreversível o líder deverá agilizar e ajudar o colaborador na sua persecução de uma nova alternativa para além de deixar de ter alguém insatisfeito a trabalhar na sua equipa, irá dar inicio a um novo ciclo.

O quão gratificante é saber que conseguimos a agulha certa para a nossa caixa de costura. Não só o processo, mas o ciclo como um todo, são uma batalha recorrente que nós, profissionais de recursos humanos, vivemos com muita intensidade. Conseguir escolher o candidato certo, que tenha as competências técnicas e pessoais indicadas para as necessidades da empresa, sabendo que a empresa ficou satisfeita com essa escolha mostra-nos o quão importante se torna a gestão de recursos humanos na gestão produtiva de empresa.

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